quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Conversas - Só há tempo para amar

Oi :)
Tudo bem por aí?
Por aqui acordei escrevente! hehe
Uma vez (há mais de 10 anos!) eu escrevi um texto em que, em paralelo à história que eu contava, eu falei sobre essa arte de escrever. Um trecho dizia assim:
"Difícil ainda mais me é a história inventada... meu substrato é o vivo, no laboratório, nas minhas reminiscências ou nas lembranças mais presentes, no que sinto e escrevo; construo sobre a vida que a existência implica."
Na época eu ainda trabalhava em laboratório de pesquisa - hoje trabalho atendendo público, e em relação a isso segue tudo igual: meu substrato é o vivo. Parece que só sei escrever sobre o que faz parte real da minha vida, de forma que eu sou uma tagarela infinita nas matutações desse blog mas se me pede pra inventar uma história do nada fico no maior vácuo...
Essa lembrança foi pra introduzir uma ideia que eu tive - de compartilhar aqui no blog meus diálogos que aconteceram por escrito. Seja porque eu tenho cara de confessionário, ou porque eu tento exercitar a escuta empática, ou porque eu vivo puxando conversas mundanas pra uma reflexão maior por trás dos fatos, o certo é que com frequência eu me vejo em trocas significativas com as pessoas, daquelas que nos dão insights legais sobre a vida. Aí, pra gourmetizar um pouco a ideia, resolvi criar uma série a partir dos posts que nascem dessas trocas de ideia, e batizei a série de "Conversas". Rá!
Hoje eu acordei disposta a botar em dia o assunto com um grupo de amigas muito amadas no whatsapp, e assisti a um TED talk que uma delas postou há uns dias. Pra quem não tem os 12 minutos pra assistir (vale a pena!), é a fala de um pesquisador contando sobre um estudo que acompanhou anualmente centenas de pessoas ao longo de 75 anos pra saber o que nas suas vidas proporcionou mais saúde e felicidade. E parece que os relacionamentos próximos, profundos e harmônicos são o fator mais protetivo de saúde que se pode ter; o saber que se tem com quem contar nas horas difíceis, saber que não se está só na vida.
Eu ouvindo esse TED e me derretendo inteira de lindeza, fiquei pensando em tantas cenas da minha vida em que eu recebi amor e alimento pra alma a partir dos meus relacionamentos, dos mais duradouros aos mais fugazes em termos temporais - num dia desses no trabalho, uma recém-colega, com quem eu já tinha tido oportunidade de conversar mais profundamente sobre a vida, passou por trás da minha cadeira, me abraçou e me deu um beijinho na cabeça - aquilo foi tão doce, tão lindo, que fiquei pensando em como eu amo e valorizo criar vínculos reais a partir das oportunidades que a vida nos dá de estar perto de pessoas. Como o pesquisador disse na palestra do vídeo, criar e manter vínculos profundos e amorosos é um trabalho de dia a dia, nada glamourizado, não é coisa que se posta em rede social. É um estar disponível, em tempo, presença e empatia, pras dores e dilemas das pessoas, é um exercício de generosidade, é uma vontade de construir junto, de ver de verdade e se deixar ver.
O pesquisador fecha com uma citação do Mark Twain:
There isn't time - so brief is life - for bickerings, apologies, heartburnings, callings to account. There is only time for loving - & but an instant, so to speak, for that.
("Não há tempo - tão curta é a vida - para discussões mesquinhas, desculpas, amarguras, cobranças de prestação de contas. Só há tempo para amar - e, mesmo para isso, é só um instante”).
Ele poderia ter citado "We can work it out" dos Beatles também -
Life is very short / and there's no time / for fussing and fighting my friend
I have always thought / that it's a crime / so I will ask you once again
Try to see it my way / only time will tell if I am right or I am wrong
While you see it your way / there's a chance that we might fall apart
Before too long
(a vida é muito curta / e não há tempo / para futricas e brigas, meu amigo
eu sempre achei / que isso é um crime / então vou te pedir mais uma vez
tente ver as coisas do meu jeito / só o tempo dirá se estou certo ou errado
enquanto você vê só do seu jeito / há uma chance de que a gente possa se separar em breve)
Aconteceu que esse assunto todo do vídeo me lembrou de uma conversa minha de algum tempo atrás. Foi uma situação em que eu presenciei uma disputa entre duas pessoas, daquelas em que uma quer que todos façam assim e outro quer que todos façam assado. Trocando uma ideia com um dos envolvidos:
A gente precisa sempre fazer concessões pela boa convivência e muitas vezes vale mais a pena ser feliz do q está certo. Pra ser feliz a gente tem q estar em paz e nas disputas a paz se vai ralo abaixo, mesmo quando a gente q "ganha" - aí a gente percebe q nunca tem ganhador de verdade nessas situações...
Espero muito que vcs consigam chegar a um bom termo nessa e em todas as questões q surgirem. Nem sempre é fácil a convivência, mas toda situação se apresenta pra nos trazer aprendizado e com as nossas mudanças interiores vai tudo ficando mais harmônico. Fico feliz q seja uma oportunidade bem aproveitada, a vida tá sempre assim, nos tirando da zona de conforto pra nos ensinar... é sempre pro melhor!
Mark Twain disse tudo: não tem tempo pra treta não, gente. A vida é breve, a vida é rara. Não tem nada que pague a paz no coração. Às vezes a gente precisa sim se posicionar, fazer entender qual é o nosso espaço quando ele está sendo invadido (nosso espaço = essa liberdade necessária de cada um nas coisas que só dizem respeito a nós mesmos) - até porque quando a gente não faz isso e estão interferindo nas nossas escolhas pessoais, se a gente não faz nada a respeito a gente perde a paz né? Ser pacífico não é ser passivo e acomodado, é simplesmente saber diferenciar o que realmente é importante pra mim ou não, é saber escolher as "batalhas" em que eu entro. Vejo casais em que a escolha do restaurante onde vão jantar se torna uma batalha. Será que é tão importante assim? Eu sinto que não é tão importante assim, ainda mais se comparar com a importância de viver em harmonia. E tem o outro lado: mesmo sendo em questões corriqueiras da vida, será que é legal quando um sempre cede pra não brigar e a vontade atendida é sempre a do outro? Relacionamentos são construções baseadas num equilíbrio de generosidade e autorrealização. Só se autorrealizar é viver pro próprio umbigo, sem querer saber se as pessoas ao redor estão felizes com a convivência e as escolhas comuns; ser o lado que só cede pra não brigar faz a gente querer ir embora pra poder fazer o que tem vontade sem alguém tolhendo.
Existe hoje uma supervalorização do "ganhar", típico do mundo baseado em competição, em que a maioria da galera ainda vive. Sabe aquela coisa do "não levar desaforo pra casa", do "comigo é do meu jeito", do "eu te avisei"? Em tudo isso tem aquela satisfação do subjugar o outro, do estar certo, do ganhar no argumento (ou na chantagem emocional mesmo). Minha sensação é que a vida vai ensinando que quem vive assim tende à doença e à solidão, e o sofrimento que vem disso vai fazendo seu papel de proporcionar aprendizado.
Então era isso, sigo eu falando do que eu vivo, e esperando que sirva pra mais gente também... esperando sem esperar, hehe, simplesmente oferecendo o que eu acho que recebi de bom na vida e deixando o universo atuar. Esses dias vi escrito assim "Poste como se ninguém estivesse olhando", super me identifiquei haha...
Se alguém tiver vontade de ler a Fê de mais de 10 anos atrás, esse é o texto de onde saiu aquela frasezinha do começo do post.
E viva a independência real do ser humano, já que é 7 de setembro!
Bjs com carinho,