quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sobre ver vida no outro

Oi queridos :)
Hoje me deu vontade de escrever só porque tava aqui rolando o feed do facebook, entre uma tarefinha de computador e outra, vi essa figurinha batida:
Na hora, sabe lá pq, meu coração se tomou de tanta emoção, eu que já ouvi muitos "namastês" na vida, que percebo o quando essa expressão se tornou meio dita sem sentir. É que namastê só faz sentido se sentir!
Porque a vida muda quando a gente vê Deus no outro.
Mesmo pra quem não usa a palavra "Deus".
Porque a vida muda quando a gente vê vida no outro: simples assim.
Qualquer pessoa que passa por nós: ali vai um conjunto de construção de individualidade igual a vc. Ali existem emoções e pensamentos e um corpo que anda pela rotina mais ou menos cansativa, mais ou menos automática, mais ou menos desejada por aquele ser; naquelas emoções e pensamentos vive a memória de uma história de vida, certamente com seus traumas, com suas boas lembranças; as marcas daquele rosto, aquele jeito de andar mostram as circunstâncias da vida atual e dos anos passados; os olhos dizem aquelas emoções e pensamentos, mais eloquentemente que as palavras pensadas para serem ditas. É só ter olhos de ver... é só sintonizar o olhar.
O meu queridão (sinto que ele vai aparecer com frequência nos posts daqui pra frente... kkkkk) Eckart Tolle fala que a gente costuma interagir com papéis, não com pessoas. Vou no mercado e entro na fila do caixa e espero a minha vez - pra mim, se estou vivendo no automático, a pessoa que está ali é simplesmente "o caixa": alguém que desempenha a função de me permitir sair daquela fila e ir embora o mais rápido possível do mercado. Se não passar as compras rápido, se parar pra fazer alguma outra coisa antes da minha vez, vou ficar impaciente. Se não me olhar pra dar bom dia, vou pensar que é mal educada e que aquele mercado deveria exigir educação e cortesia de seus atendentes. Se jogar minhas mercadorias pro outro lado da esteira sem cuidado, vou ficar silenciosamente indignada com o descaso.
Mas... se eu vejo ali uma pessoa, em vez de "o caixa", tudo muda. Olha bem para aqueles olhos: o que eles dizem? Preocupação? Cansaço? Atenção ausente? Será que aquele ser queria estar ali, ou simplesmente não tem opção e precisa pagar contas todo mês? Será que aquela pessoa é uma mãe com um filhinho doente na casa da vizinha? O que será que ela faz quando sai dali, quanto trabalho será que ela tem em casa? Quanto tempo será que ela leva pra chegar em casa do trabalho? Ela é uma pessoa que precisa ir ao banheiro, se alimentar, contatar seus familiares, descansar uns minutos ao longo da sua jornada de trabalho. É absolutamente natural que ela pare eventualmente entre um atendimento e outro. Ela é gente. Ela é nós em outro corpo, com outra história. Isso é empatia.
Empatia muda a vida. Empatia nos tira da posição de críticos, de demandadores de eficiência. Nos permite ver o outro com a mesma compreensão e indulgência com que vemos a nós mesmos. Infelizmente, parece que muitos graus de empatia a gente só cria quando passa pela situação que antes a gente só via de fora. Essa historinha aí do caixa de supermercado é a história do que eu sentia e pensava quando ia no mercado, antes e depois de eu começar a atender público no trabalho. Percebendo as demandas do público sobre nós, num ambiente de escassez de colegas e quantidade de trabalho muito acima da nossa capacidade, eu vi o quanto eu fazia aquelas mesmas demandas quando estava no papel "a cliente" e o quanto elas eram potencialmente injustas. Hoje eu faço o possível para ver as pessoas por trás dos papéis. Quanto mais corrida a vida, no jogo da sociedade, mais o mundo nos incentiva a só ver papéis e exigir perfeição na execução das funções; nos incentiva também a sermos apenas o nosso papel e nos cobrarmos a mesma perfeição. Os seres se perdem... até que a gente faça essa revolução no nosso olhar.
A Júlia, minha médica virtual preferida, fez esses dias um apelo pra gente não esperar que a empatia brote naturalmente só por termos vivido a mesma situação. Uma vez feita a revolução no olhar, uma vez tomada a consciência da necessidade de empatia, vamos ver de fato o mundo ao nosso redor, vamos perceber tudo o que acontece com as pessoas e que não queremos pra nós, vamos compreender os caminhos tantas vezes cruéis que os levam a alguns comportamentos que julgamos maus. Vamos encher nosso olhar de empatia e amor :)
Parece que todo caminho espiritual nos incentiva a ver de verdade o Ser no outro. O Namastê da tradição indiana; o "In lak'ech" dos maias (eu sou o outro você).
Sabe até o que eu me lembro agora?
Aquele filme Avatar, e a palavra que o povo azul de Pandora usava pra se cumprimentar,
que significava "eu vejo você".
Bonito isso, né?
Dar oi dizendo eu vejo você,
reconheço o que faz de você meu igual
e o q faz de você único no mundo,
percebo as suas lutas pessoais,
seus ideais e sonhos,
suas fragilidades,
olho pra vc e realmente o vejo,
e por isso lhe cumprimento com respeito, admiração, carinho.
Tem um videozinho bem lindo que fala de empatia de forma muito, muito didática, tanto pela explicação quanto pela animação bem feita, divertida e sensível. Pra quem não tiver tempo de dar o play aí embaixo (vale muito a pena!), fica um resuminho do que ele traz: 
Empatia gera conexão.
Pessoas com capacidade empática conseguem tomar perspectiva e têm a habilidade de reconhecer a pespectiva do outro como a verdade dele; não julgam e reconhecem emoções em outras pessoas. Ter empatia é sentir COM as pessoas.
É como uma pessoa que está num buraco escuro e grita pra cima, tô presa, tá escuro, tá demais pra mim, e você diz oi, vou descer, sei como é aqui embaixo e você não está sozinho. Empatia é uma escolha, e é uma escolha vulnerável, porque, para me conectar com você, tenho que me conectar com um lugar de mim mesma que conhece aquele sentimento.
Se eu compartilho algo muito, muito difícil, em vez de uma solução pronta às vezes é melhor dizer, "nem sei o que te falar, mas que bom que você me contou", porque raramente é uma resposta que vai fazer as coisas melhores e, sim, a conexão.
A vida é tão rara, como disse o Lenine numa das músicas mais lindas que existem. E isso que eu nem falei da empatia com toda forma de vida, porque esse post já tá, pra variar, comprido de doer...
Vamos nos ver uns aos outros, de verdade <3
Bjs com carinho

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