domingo, 20 de março de 2016

O que um assalto tem de bom?

Oi queridos!
Só pra não deixar a pergunta na expectativa de resposta, claro que um assalto não tem nada de bom. Mas pode ter de útil. E útil, dependendo do que a gente definiu com objetivo de vida, pode ser bem bom, no fim das contas!
Esse fim de semana estou tendo aula da minha pós-gradação em saúde e espiritualidade e o assunto esse mês é a relação da espiritualidade com a psique na visão junguiana. Gosto muito do Jung e do entendimento que ele tem do Universo como sábio e movido por finalidade - foi ele quem cunhou o termo sincronicidade, que eu uso muito. A sincronicidade é uma aparente coincidência entre fatos sem relação causal, mas que se atraíram mutuamente devido a um propósito. Então se busca entender nessa forma de terapia o que estamos atraindo de experiências para a nossa vida, e o que essas experiências estão querendo nos mostrar do comportamento do nosso ego e de necessidade de mudança, em direção a uma vida mais plena, mais em acordo com a consciência superior que existe dentro de nós (que o Jung chama de "self").
Aí pensei, durante a aula, no quanto a vivência do assalto que sofri esses tempos foi um exemplo de sincronicidade: eu levei muito tempo pra entrar na vida de pessoa com smart phone, e só entrei porque herdei um telefone usado da minha mãe, há quase dois anos. E logo depois iniciou todo o movimento de consciência que gerou esse blog e muitas mudanças na minha vida, e o telefone se tornou um meio de usar cada momento do meu tempo pra não perder toda a gama de informações emancipadoras que cada vez mais chegavam até mim. Sem eu me dar conta, estava entrando naquela cilada da ansiedade por medo de perder o que tá acontecendo, tava sempre com a lista cheia de artigos para ler, sobre assuntos que me interessavam, e sempre justificando, para mim mesma, que aquilo era bem importante pra minha vida. E ao mesmo tempo eu estava chegando num ponto da mudança que estava requerendo uma aquietação, uma atenção a práticas meditativas que eu não estava conseguindo encaixar na minha vida de muitos cursos, muitas oficinas, leituras, posts, trocas de informação. Aí, numa tarde, depois de mais de ano e meio de intensa atividade, o celular que a mãe me deu, que há algum tempo estava ficando lento e ruim de usar, teve morte súbita, e eu saí do trabalho direto para a loja para comprar um novo, e de noite já tava conectada & aliviada de não ter ficado mais do que algumas horas sem contato com as minhas fontes de informação transformadora. Nem lembrava que há dois anos eu achava bem improvável que alguma vez na vida eu fosse gastar mil reais num telefone - nem questionei a compra, que eu apenas senti como uma necessidade básica da minha vida como ela vinha acontecendo.
Nesses últimos dois anos andei muito em Porto Alegre, mas muito mesmo, transporte público direto, de dia e de noite, e sempre me senti muito protegida pela minha "bolha de luz", vibrando positivo e conscientemente emanando confiança e amor e sabendo que não iam me acontecer coisas ruins por estar exposta - já que eu de qualquer forma ia fazer meus cursos e oficinas e ia usar o transporte público, vibrar positivo era o melhor que eu podia fazer pra ficar segura, certo?
Até que, pouquíssimo tempo depois de eu trocar de celular, e num dia em que eu estava triste com algumas coisas e em que nenhuma vez eu foquei em me proteger energeticamente para estar na rua, me vem um cara e me assalta na Redenção, num sábado às 8 da manhã, indo para a feira orgânica. Pela média dos relatos das pessoas que vivem assaltos, foi totalmente sem maiores danos - celular, dinheiro, aquelas ameaças de sempre, cada um pro seu lado.
A gestão interior da experiência do assalto não é o foco do post, mas vale um parágrafo. Depois que o guri que me assaltou foi embora, fui em direção ao centro de Porto Alegre pra vir pra casa e no caminho fiquei conversando com ele mentalmente pra me acalmar, dizendo que eu sabia que certamente a vida dele não era fácil pra colocá-lo no ponto de revolta ou desespero de alguém que rouba, e que eu sabia que ninguém quer ter que viver assim, e que eu entendia que aquilo era fruto de uma sociedade de aparência e excludente, que faz todo mundo acreditar que as posses é que fazem alguém ser alguma coisa na vida... e que eu torcia pra que um dia ele conseguisse superar a violência que a sociedade o impôs, pra ele conseguir não mais reagir com violência de volta, e que eu tinha certeza de que um dia a gente teria oportunidade de desfazer aquele contato pesado, de medo do meu lado e agressão do dele, e transmutar em algo positivo, e que começasse desde já essa transmutação. Fiquei um bommm tempo nesse exercício pra superar a fragilidade que eu fiquei sentindo, a sensação de vulnerabilidade, mas em nenhum momento eu senti revolta ou nada de ruim em relação a ele. Sou bem convicta da minha forma de ver a violência como produto natural da nossa sociedade doente, é o que todos nós cocriamos mais ou menos intensamente ao fazer parte dela.
E, voltando pra sincronicidade: depois de andar quase 2 anos com um caco velho de celular e nada me acontecer, troco por um celular novinho e bonzão e em duas semanas me levam ele embora. O que aquilo queria me ensinar?
Foi bem fácil de perceber, porque veio a maior crise de abstinência nos dois dias que fiquei sem celular. Dessa vez eu não saí correndo pra compra um celular novo pois eu vi que precisava refletir no que tinha acontecido, resolvi me observar antes de qualquer coisa. Foi uma lição óbvia de que havia um apego que eu estava tentando justificar racionalmente pela minha "louvável" vontade de aprendizado. Ao me dar conta disso, já resolvi simplificar minha vida online - peguei um celular bem mais simples que minha sogrinha tinha sobrando (gratidão!), troquei meu plano do celular para um bem básico também, tirei o recebimento de notificações no facebook das atualizações de grupos e páginas do meu interesse, e resolvi que tudo bem se eu perder as atualizações do mundo da sustentabilidade, vegetarianismo, nova era, terapias. Tudo bem. Desapega, Fê: ninguém pode saber de tudo e o que for bem importante pro meu caminho, sei que o Universo vai dar um jeito de me mostrar. Controle é ilusão. Eu já acumulei mais informação do que fui capaz de metabolizar nesse período, a minha necessidade de desacelerar e internalizar as experiências e aprendizados adquiridos era tão óbvia, só eu não conseguia ver, aí o Universo providenciou um assaltinho pra eu acordar :)
Desde então estou passando 10% do tempo de antes na internet, e isso me devolveu o tempo de descanso do qual eu havia abdicado e eu pude perceber o momento de introspecção que estava iniciando - outra sincronicidade: tudo isso foi um mês antes de um retiro longo que farei no fim de março, que será um evento bem extraordinário na minha vida. Fui desacelerada no momento certo, a tempo de preparar o coração e a mente para a vivência absolutamente interior que virá nesse retiro.
Eu, que sou movida por propósito, afino plenamente com a ideia de um universo que interage comigo por forças finalísticas - o que me acontece, não acontece necessariamente por merecimento, mas sempre por finalidade, por necessidade de aprendizado. A minha necessidade que atrai os acontecimentos que servirão de algum propósito na minha caminhada, a minha consciência superior constela esses acontecimentos pois ela me direciona inevitavelmente ao crescimento - se eu não percebo os alertas mais sutis, vem um mais óbvio.
E eu ando, sim, meio sobressaltada na rua quando alguém me aborda, coisa que eu nunca senti - sei que é reflexo do assalto e que com o tempo vai passar.. mas, fora esse efeito colateral, posso dizer que foi exatamente a experiência que eu precisava naquele momento.
E vou então ao retiro, com o coração bem mais em paz, a mente bem mais quieta, com lindos prospectos para esse meu novo ano que inicia - porque hoje é meu aniversário :-D
Bjs, com carinho da Fê.

terça-feira, 8 de março de 2016

Dia de pensar sobre o feminino

Bom dia, queridos!
Esse dia 8 de março sempre me deixa reflexiva, com as mensagens de parabéns e flores e vocês são incríveis por se desdobrarem em mil e fazerem tudo isso com graciosidade, uau.
Não, não - por favor, nosso mundo precisa chegar na raiz do problema. Existe um problema muito sério com o princípio feminino no nosso mundo. Que esse seja um dia de refletir sobre isso. Deixo o Prem Baba fazê-lo, porque ele o faz maravilhosamente. Ele sabe tão profundamente o quanto esse problema é raiz de sofrimento no mundo que fala sobre isso repetidamente. Deixo alguns trechos e links, para quem queira aprofundar.
E deixo também meu desejo de que nos curemos e manifestemos cada vez melhor nossas energias feminina e masculina pra criar um mundo de amor e troca verdadeira e honrada!
Bjs

Flor do dia 07.12.2015
“As distorções dos princípios vitais feminino e masculino, que se manifestam como agressividade e submissão, nascem da necessidade de retirar energia do outro. Energia significa amor – essa é a energia que alimenta o universo. O desamor é o que gera as distorções. Assim, a entidade humana, movida pelo desamor, passa a vida tentando conquistar o amor, mas tudo o que ela consegue é gerar mais desamor. O submisso gera mais ódio no agressivo porque ativa nele a violência do masculino distorcido; e o agressivo ativa ainda mais a submissão do feminino distorcido. Esse é o núcleo da guerra neste planeta.” Sri Prem Baba
"Você quer saber mesmo como está uma nação, observe a relação dela com a mãe. Vamos traduzir mãe como o feminino. Como você se relaciona com o sagrado feminino? Você homem, você mulher. O sagrado feminino que se manifesta de muitas maneiras, como a sua mãe que te deu a vida, como as mulheres em geral, com seu próprio corpo físico que é também uma manifestação da mãe divina, a própria natureza e todas as suas manifestações e tantas outras formas, cito apenas os mais óbvios.
Você pode honrar o sagrado feminino? Você pode sinceramente reverenciar o sagrado feminino? Você pode considerar o feminino sagrado?
O descaso com o seu corpo físico é o mesmo descaso com a natureza porque seu corpo é uma representação dela. Os rios são as veias e assim por diante. O oceano é o seu coração. O que você tem colocado pra dentro do seu corpo? O que você tem colocado nos rios do seu corpo? Plástico, metal, químicas diversas. É interessante que possamos refletir sobre este processo destrutivo que embora muitas vezes possamos considerá-lo como ilusório, está nos destruindo. É ilusório, mas você continua identificado com ele e você reage a partir dele. Você está identificado com o ódio e age a partir do ódio. Me parece que, o que realmente é nocivo, é a sua inconsciência em relação a esta identificação. O que é nocivo mesmo é a ignorância que faz com que você não admita a responsabilidade por esta destrutividade." (esse texto inteiro é maravilhoso, transcrição de um satsang em 2009)
"Às vezes, você realmente manifesta o sagrado feminino e consegue aceitar o fluir (este é o princípio feminino original). Quando esse princípio é distorcido, ele se transforma em submissão e vitimismo. Essa distorção acontece na infância, na sua relação com a mãe. No momento não estamos lidando com o princípio masculino, que é a força de ação que, quando contaminada pelo ódio, transforma-se em violência. Mas, esse não é o assunto do momento. Nesse momento, estamos tratando da afinação com o feminino. (...)
Como esse feminino distorcido age em você? Como você se faz de vítima e se põe a reclamar da vida? Como você tenta fazer o outro sentir-se culpado pela sua infelicidade? Como você tenta forçar o outro a te amar, fazendo-se de impotente e coitado? Como você tenta escravizar o outro com a sua máscara de impotente e carente? Como você joga culpa na porta do outro, pela sua incapacidade de amar? Isso são distorções do feminino dentro de você, e você já tem condições de avaliar. Veja como você se coloca na posição de dependente ou codependente do outro; se você precisa que o outro seja infeliz para sentir-se forte. E fazendo isso você alimenta o vício no sofrimento do outro. Você alimenta esse vício, porque isso te dá um senso de identidade. Quem é você sem esse vício ou essa imperfeição do outro?
Veja as diversas formas que a distorção do feminino age através de você. Essa avaliação tem muito valor. Isso pode realmente fazer diferença na sua vida." (satsang em 2013)