segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Aprendizados da imersão no veneno

Olá, queridos!
Tô aqui pensando que tenho feito cada textão no blog que deve dar preguiça nas pessoas de ler... mas esses primeiros posts não consigo que sejam diferentes, pois estou tentando dar uma geral, minha opinião e referências em cada tema que me interessa. A outra opção é que eu seja uma prolixa incurável mesmo e vá ser sempre assim kkkkkk... mas nem que seja pelo tempo, que tenderá a ficar mais escasso a partir dessa semana, o ritmo de blablabla vai diminuir :)
Quero compartilhar com vcs uma oportunidade incrível que eu tive, no dia 24 de agosto desse ano: participei de um seminário de dia inteiro na Unisinos, de graça e sem ser aluna, em que ouvi alguns dos pesquisadores e profissionais mais atuantes na conscientização sobre os danos à saúde causados pelos agrotóxicos. Foi um seminário de extensão e de lançamento do Dossiê Abrasco, do qual eu já falei na página Links, preciosos links. O dossiê tem por objetivo chamar atenção da sociedade e do governo sobre esses danos. O auditório estava cheio de profissionais e estudantes das mais variadas áreas - uma alegria pensar que todas aquelas pessoas (e tantas mais pelo Brasil, nos diversos eventos sobre o dossiê) compartilharam essas informações que me desvendavam uma verdade muito pior do que aquela noção vaga que a gente tem, "ah, usam defensivo pra evitar lagarta né? Mas se não for assim não rende a produção, paciência...". Minha gratidão à Unisinos e aos palestrantes está aqui, na forma de propagação de algumas coisas que aprendi.
Foi um dia de desconstrução completa do que o agronegócio e as gigantes da transgenia e seus tentáculos acadêmicos me fizeram acreditar.

E vc, também acredita?
Que sem eles o Brasil passaria fome e que a agricultura familiar não tem volume para alimentar o povo? Sabia que vai quase tudo pra alimentar os bichos de corte e exportação? E que com 25% das terras cultivadas do Brasil a agricultura familiar produz 70% do alimento do país? E que houve grande pressão da bancada ruralista contra o presidente do IBGE na época em que o censo agropecuário de 2006 saiu evidenciando isso? De forma geral, que a bancada ruralista trabalha defendendo apenas o interesse econômico dos seus representados, sem compromisso com a nossa saúde?
Te fizeram acreditar que aquele agrotóxico aprovado com base no estudo "científico" feito dentro do laboratório da empresa que o vende é seguro pra a saúde, mesmo quando combinado com os outros 2, 3 tipos de agrotóxicos que muitas vezes ocorrem combinados num cultivo e que não participaram do estudo (entre tantas outras fragilidades de método de pesquisa)? Sabia que a lei do Brasil garante uma licença eterna de uso para cada novo agrotóxico aprovado, sem necessidade de revisão periódica da autorização, para verificação se novos estudos atestaram seus riscos? E que a comunidade científica isenta só tem acesso a novas criações das grandes empresas de transgenia depois de seus produtos já estarem no mercado e ao rumo da sua mesa? Por isso o crescimento do mercado de agrotóxicos no Brasil é vezes maior que o mundial: a nossa lei está muito mais preocupada com os avanços do agronegócio do que com a nossa saúde.
Te fizeram acreditar que produto orgânico é caro e por isso coisa pra rico? Já pensou em embutir o dinheiro q sai do governo - e, portanto, do seu bolso - para subsidiar os incomparáveis créditos que só os grandes produtores dentro do esquema químico-dependente conseguem, os custos mais mensuráveis do SUS com intoxicações agudas por agrotóxico principalmente na população rural, os custos imensuráveis e ainda largamente desconhecidos dos danos crônicos acumulados em toda a população? Segundo um estudo realizado nas propriedades rurais do Paraná, cada dólar gasto na compra de agrotóxicos pode custar 1,28 dólares aos cofres públicos em futuros gastos com casos de intoxicação aguda na população. E ainda, o dano inestimável de ir sugando a terra de forma predatória e deixando para trás, como faz o modelo atual de produção de larga escala?
Acredita que o governo está defendendo o SEU interesse, quando o legislativo faz projeto de lei pra tornar praticamente impossível reconhecer transgenia em um produto? Sabia que a trangenia comercial é principalmente intencionada para provocar venda casada de semente com agrotóxico? Os transgênicos no mercado objetivam resistência da planta a pesticida/herbicida, e não aumento de produtividade - a tal tecnologia acaba necessariamente implicando veneno no prato. Sabia também que numa monocultura, devido ao desenvolvimento de resistência das ervas "daninhas" aos herbicidas, é necessário aplicar cada vez mais pesticida para se ter o mesmo resultado? Sabia que a carne comercializada vem com todo esse histórico de veneno, já que um dos principais destinos da produção do agronegócio é alimentar rebanho? 
E, bem do lado, muitas vezes tem uma escola rural.
A mídia comprada te fez acreditar que reforma agrária é só coisa de comunista pra beneficiar vagabundo, que os movimentos pró reforma agrária só têm um bando de baderneiros invasores e destruidores? Sabia que as famílias assentadas são responsáveis por uma parcela enorme da produção de alimentos do país, que militam em resistência a todo esse esquema que te faz financiar o próprio envenenamento, fazem bancos de sementes crioulas, entre tantas outras atividades de conscientização? Sabe que existe uma rede enorme de profissionais e pesquisadores sérios e de muito conhecimento científico defendendo a reforma agrária como viabilizadora da agricultura familiar ecológica e componente da solução para a nossa saúde e para o bem estar social, ao permitir existência digna no campo para um contingente significativo de cidadãos? Sabia que cooperativas de famílias assentadas têm produtividade de alta escala no cultivo orgânico?
Te fizeram acreditar que, se o governo permite que se venda, se tá no mercado, claro que o produto deve ser seguro? Sabia que o Conselho Técnico Nacional de Biossegurança nunca negou uma licença de novo agrotóxico, e que quando a comunidade científica luta muito para retirar um agrotóxico já licenciado mas cheio de estudos mostrando danos e o Conselho acata o banimento, as empresas entram com liminares e judicializam a questão por anos, enquanto o agrotóxico segue aos litros sendo absorvido pelas plantinhas que vão pra mesa depois? Eu sabia quase nada de tudo isso. Por que não vemos mais dessas notícias e informações que linkei na grande mídia?

Instrua-se, e se vc não gosta da ideia de financiar seu próprio envenenamento, atue! Ser um cidadão numa sociedade com quase tudo por construir a fim de termos um país decente para todos não é só pagar os impostos e esperar de volta um funcionamento perfeito do estado. A nossa responsabilidade é muito maior! Cada vez mais eu concordo com o cartaz que vi no Bonobo, espaço vegano e libertário de Porto Alegre: no capitalismo, não é uma pessoa=um voto; é um real=um voto. Dinheiro manda no lobby, que manda nos políticos, que mandam nas políticas públicas que interferem diretamente na sua vida.
Defina o que vc financia, enxergue por trás do produto no mercado, o que a sua cadeia produtiva significa para a nossa sociedade. Apoie as feiras orgânicas - descubra o que há de agroecologia na sua cidade (esse mapa das feiras é o ouro!), e se não há pressione a prefeitura, os vereadores. Se vc entende, como eu, que os agrotóxicos, as empresas de transgenia, o agronegócio e a bancada ruralista prestam um desserviço à nossa sociedade e nossa saúde, boicote os produtos transgênicos, como praticamente toda a soja e o milho que temos por aqui, e todo produto de origem animal, indústria sustentada pelos mesmos grãos. Não tenha medo de mudar hábitos sociais e alimentares em resposta às suas convicções, pois ter a consciência tranquila e atuante no despertar de outras consciências tem um gosto muito melhor que qualquer comida. Confronte as informações com fontes pró-agronegócio e se posicione.
Tudo o que vc quiser saber sobre o assunto, numa revisão bibliográfica imperdível, elaborada por uma rede vasta de pesquisadores que abraçam a causa e lutam pela nossa saúde desinteressadamente, vc pode achar no dossiê Abrasco, disponível por completo no site, nova edição ampliada recém lançada e livre para todos, direitos autorais abdicados. No site tem também documentários imperdíveis.
Eu passei muito tempo achando que, por abominar o jogo de interesses predominante na politica partidária, eu poderia viver de forma alheia à normatização da sociedade, trabalhando só meu autoconhecimento, minha evolução espiritual pra buscar ser uma pessoa melhor para mim e para o meu próximo, como diz no evangelho que eu muito amo; estudando, buscando dar o meu melhor no meu trabalho e para as pessoas do meu convívio, fazendo um ou outro trabalho assistencial voluntário. Hoje eu vejo que me posicionar nos atos que me tornam parte da sociedade é sim fazer política, é exercer cidadania. Isso não demanda filiação partidária, é o que devíamos todos ser incentivados a fazer desde criança, mas cadê incentivo? Cuidar meu consumo também é agir com amor e compaixão pelos afetados para a produção dos objetos de consumo. Não me importa que a diferença que eu possa fazer, individualmente, seja pequena. O idealismo só não vira amargura diante da realidade quando é carregado de amor e de esperança, e essas eu cultivarei para sempre.
Querendo ouvir gente com efetiva propriedade pra falar sobre esses tópicos, pesquise-os: Fernando Ferreira Carneiro; Karen Friedrich; Leonardo Melgarejo. Assista aos documentários no youtube O veneno está na mesa e O veneno está na mesa II. Só pra fechar com uma informação pontual, veja o nível do absurdo nesse vídeo curtinho do Michael Pollan, sobre os agrotóxicos na batata do McDonalds.

Esse assunto me interessa muito, quem quiser compartilhar outros vídeos e textos que acrescentem, por favor, mandem!! Eu demorei muito para despertar para a responsabilidade de cuidar melhor do meu corpo, trocar a ótica do fazer dieta pelo respeito com o meu corpo, veículo de manifestação nesse plano de consciência. Eu tenho intenção de viver MUITO, e cheia de saúde, e hoje sei que estou fazendo o que posso por merecer esse futuro! Amar o nosso corpo, um assunto tão necessário nesses tempos de aparência ditando as relações, é bem mais fácil quando a gente o vê pela ótica da liberdade que só a saúde dá, em vez de pelo que determinaram que é o bonito e desejável em aparência através do julgamento dos outros.
E vamos em frente, com amor, com coerência, respeitando o ritmo do nosso passo, mas sem tardar ;-)
Abraços com carinho,

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